12/06/2017

Feud: Bette and Joan

Bette Davis e Joan Crawford se odiavam. Até aí nenhuma novidade, eu mesmo já falei sobre essa rivalidade no Barba Feita. No começo dos anos sessenta elas ainda mantinham seu imenso público, contudo dividiam os holofotes com outras divas. Hollywood sempre fora cruel para com as mulheres, sobretudo quando elas passavam dos trinta anos, quiçá dos cinquenta. Não haviam mais os grandes papéis de outrora e elas também já haviam feito praticamente tudo, mas incansáveis, não queriam dar o braço a torcer. Estavam vivas e queriam continuar trabalhando. 

Bette Davis trabalhava na Broadway em A Noite do Iguana e parecia não estar nada animada, além disso seu casamento também estava acabando; Joan Crawford não vivia um bom momento e precisava voltar a atuar e foi justamente ela que encontrou o livro O Que Terá Acontecido a Baby Jane? e convenceu o cineasta Robert Aldrich a fazê-lo. E foi a própria até o teatro convidar Bette Davis para este projeto.


Mesmo assim não foi fácil para o pobre Robert conseguir convencer os estúdios a fazer este filme de terror psicológico. Ora o problema era a idade das atrizes, ora o viés que seria dado a narrativa, ora o próprio diretor, mas foi justamente o antigo chefe de Bette e Joan, Jack Warner, quem acabou aceitando a empreitada.

E assim começa Feud, antologia capitaneada por Ryan Murphy que recria uma Hollywood nos figurinos e direção de arte de forma impecável. Provavelmente  um dos grandes lançamentos deste ano, exibido em oito episódios no canal americano FX e aqui no Brasil pelo serviço Fox Premium. O interesse aqui está em desvendar os bastidores não apenas da produção de um dos filmes mais emblemáticos de Hollywood, mas principalmente destas mulheres voluntariosas.


Bette Davis não levava desaforo pra casa e Joan Crawford era do tipo que comia pelas beiradas. Ambas se odiavam, mas sabiam do talento uma da outra. É perceptível que ao longo de toda série, Murphy deu espaço maior para a amiga Jessica Lange recriar uma mulher caprichosa que foi muito bela no passado, mas que ainda guardava a beleza de anos anteriores. Joan Crawford é patética, acreditava plenamente na personagem que criara para si mesma, mas é humana, sendo assim conseguimos entender o trabalho de Jessica e a mea culpa que Murphy impôs á personagem. 

Explico. Joan Crawford tinha o nome na lama por causa do livro, Mamãezinha Querida, que sua filha adotiva, Christina, escreveu após sua morte. O livro deu origem a um filme estrelado por Faye Dunaway. Sendo assim o mundo descobriu que Joan havia sido uma péssima mãe para Christina que sofreu o pão que o diabo amassou. Ryan tentou então dar uma maneirada na imagem da Joan, mas sem deixar de mostrar que ela apenas tentava sobreviver com as armas que podia na selva que é Hollywood


Quanto a Susan Sarandon, particularmente nunca a maginei interpretando Bette Davis, na verdade nunca maginei que alguém fosse capaz de interpretar a maior atriz de todos os tempos, porém assim que ela surge em cena não existem dúvidas que nasceu para isso. E não é Susan que vemos e sim Bette.

O que assistimos ao longo de oito episódios foi a recriação de todas histórias, ou lendas urbanas, acerca desta produção. Está tudo lá. É interessante observar a perfeita reconstituição de época como também os meandros, um tanto nebulosos, dos bastidores de Hollywood. Figurinos, direção de arte e a fotografia que ressalta a cor dos anos sessenta e setenta numa realização precisa e meticulosa de Murphy que ofereceu grande oportunidade para o elenco.


Outro ponto interessante foi o excelente uso do Guerrilla Placement na história. Se Joan era embaixadora da Pepsi (fazia questão de ser fotografada bebendo o refrigerante) e tinha instalado no set uma geladeira com refrigerantes para a produção, Bette não se fez de rogada e mandou instalar outra. Da Coca-Cola, claro. Um fato real que foi muito bem explorado em um dos episódios.

Mesmo para quem não conhece o trabalho de Bette e Joan, Feud merece ser vista. E tenho certeza que muita gente vai entender porque essas mulheres se tornaram lendas muito cedo. Está tudo lá. Nos mínimos detalhes.

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