17/06/2020

Dor e Glória

O cinema de Pedro Almodóvar é colorido, vibrante, suas histórias são genuínas, únicas e por isso mesmo nem parecem estar acontecendo bem embaixo de nosso nariz, mas estão. Acontece que o espanhol aumenta sempre a intensidade da cor de cada história e por isso muitas vezes há quem diga que elas só poderiam sair de sua cabeça.

Dito isso temos Dor e Glória que é uma homenagem do diretor ao cinema, pode ser que o personagem seja baseado nele, pode ser que não, mas aqui temos mais um filme de Almodóvar com todas as suas características que o tornaram famoso.

Antonio Banderas (merecidamente indicado ao Oscar de melhor ator) personifica o cineasta Salvador Mallo que vive cheio de dores, sua carreira está parada justamente por causa disso, ele reencontra um antigo ator com quem trabalhara muitos anos atrás, ele está imerso em seu passado e precisa se reconciliar com ele. Ele está entre a dor real do presente e a glória que viveu e esta inerte perante tudo isso.

Nesse processo de reconciliação, ele se volta para a infância, a vida ao lado dos pais, principalmente ao lado da mãe (magistralmente interpretada por Penélope Cruz), uma vida simples, repleta de pequenas descobertas. Descobertas essas que vão permeando o filme. 

E assim como a vida vai passando a morte parece ser algo com quem Salvador está flertando agora. Não é apenas o ator do passado que retorna mas também seu antigo amor. Ele reencontra também um elo do passado que ficou há muito tempo perdido em algum lugar de suas memórias. E é bem isso mesmo, um filme de reconciliações, Salvador precisa resolver tido que ficou para trás para prosseguir.

E ao contrário de muitos de seus outros filmes, aqui tudo é comedido, percebemos a cor do diretor em uma cenografia ou outra, mas ninguém está gritando, ninguém parece desesperado, mas não seria Almodóvar se ele não nos brindasse com uma linda cena final. Talvez você não precise preparar os lenços, mas talvez irá sentir uma pequena gota d'água brotando no cantinho do olho.

01/06/2020

História de um Casamento

Nicole (Scarlett Johansson) é uma atriz de teatro casada com Charlie (Adam Driver), o diretor da cia a qual fazem parte em Nova York. Eles trabalham juntos há um bom empo, mas o casamento está em crise e eles procuram ajuda profissional. Nicole, volta pra Los Angeles com o filho e lá decide se separar de Charlie que não aceita a ideia da mulher deixá-lo e ainda mais ir morar com o filho deles do outro lado do país. Ela contrata uma advogada (Laura Dern) e a guerra começa.

História de um Casamento é um filme lançado pela Netflix que dialoga com a ideia de que um casamento é um acordo entre duas partes e se uma das partes não está feliz esse acordo pode ser quebrado, o problema é quando existem outras pessoas envolvidas - e me parece que sempre há alguém. No caso do filme nós temos o filho do casal de protagonistas (um menino muito chatinho por sinal que nem liga pro pai que faz de tudo pra tentar estar perto dele, mas nada dá certo) e pra piorar uma advogada linha dura que engrossa o angu. 

Calma, eu não estou aqui apenas pra defender o personagem de Adam Driver que é quem mais se fode nessa história, apesar dele ter pisado na bola e ter traído Nicole, filme tem o mérito de mostrar que ambos tentaram, Nicole não tinha muita certeza se era bem isso que ela queria, em determinado momento parece que ela só queria ir morar com o filho em Los Angeles e tentar recomeçar por lá. Ela não estava feliz em Nova York, lá era apenas a esposa do diretor badalado. A própria traição de Charlie nem é o ponto principal dessa guerra toda como acontece em tantos casos de separação. O ponto principal aqui é que Nicole quer seguir outro caminho e Charlie não faz mais parte dele.

História de um Casamento foi indicado a seis Oscars entre eles, melhor filme, roteiro original, ator, atriz e atriz coadjuvante. Venceu este último, justamente o que menos merecia. Laura Dern é uma boa atriz que já provou isso várias vezes, mas me pareceu que esse prêmio foi mais pelo conjunto da obra do que pelo papel neste filme que não tem nada demais e lembra muito a Renata Klein de Big Little Lies.

O que faz esse filme ser especial é que ele não poupa seus protagonistas, é um filme em que a direção permite que eles brilhem em cada frase, cada momento em que aparecem. Um filme feito para grandes atores terem o que dizer. E para quem assiste, pensar nas relações que vive. Um casamento não é uma prisão, é apenas um acordo entre duas pessoas feito no momento em que elas acreditam estarem indo para o mesmo caminho, mas se no decorrer, uma delas, ou as duas, decidem que não querem seguir mais o mesmo caminho, tudo bem. Afinal, o importante é tentar ser feliz.

A Voz Suprema do Blues

Viola Davis é uma atriz do mesmo quilate de Meryl Streep. Infelizmente ainda não é tão reconhecida ou tão bem paga quanto (a bem da verdade ...