26/02/2018

Roman J. Israel, Esq.

Roman é um excelente advogado, seu grande defeito é ser honesto num meio que não prioriza tais valores. Ele está mais preocupado em defender seus clientes do jogo sujo que existe nos bastidores da lei. Tudo parecia ir bem pra ele até que seu sócio morre o deixando numa situação complicada ao ponto de  se ver obrigado a trabalhar com o quê e com quem não gostaria .

Roman J. Israel, Esq. é um filme estrelado e produzido por Denzel Washington que lhe deu mais uma indicação ao Oscar de melhor ator.  O grande problema é que ele aparece em praticamente todas as cenas e esse narcisismo poderia ter sido evitado, acredito que talvez se ele tivesse apenas produzido o filme e colocado outro ator, quem sabe o filme pudesse ir mais longe. Não que o filme seja ruim, eu diria que é mediano, mas acontece que ao invés de priorizar o roteiro que tem uma premissa bem interessante, esse egocentrismo de Denzel faz o filme se perder em vários momentos e deixar uma pergunta incômoda: afinal, Roman luta pelo quê mesmo? 

A luta incansável de Roman pelos oprimidos, que deveria ser o tema central do filme, deixa de existir, a dor das pessoas que ele tanto quer defender nem é enfatizada, é deixada de lado porque o que importa no filme é exibir o já conhecido talento de Denzel Wanshington. Pelo visto deu certo, os membros da Academia compraram a ideia, contudo o ator chegou num patamar que não precisa de nada disso. Em Trama Fantasma, por exemplo, Daniel Day-Lewis brilha porque sabe deixar os outros brilharem ao seu redor, infelizmente não podemos dizer o mesmo de Denzel porque sua vaidade atrapalha o andamento da história. Em certo ponto é legal ver a transformação do personagem, ela é bem feita, ele está agora sentando na mesa grande e participando de um jogo que nunca quis fazer parte e um diretor mais habilidoso poderia ter extraído cenas mais interessantes desse momento. A cena em que ele vai à praia talvez seja uma das melhores do filme. Outro desperdício é Colin Farrel num personagem que não tem sentido algum.

E para não dizer que não falo mais de marcas por aqui existe um caso interessante de Product Placement em que a Bic aparece. E outra coisa bacana é a trilha sonora com clássicos da black music americana, um ponto a favor de um filme que quase cumpre seu papel. Quase. Só ficou um pouco longe disso.

23/02/2018

The Square

"O quadrado é uma zona franca onde impera confiança e cuidado. Em seu limite, todos têm os mesmos direitos e deveres."
Assim como eu disse na resenha de The Post, esqueçam o subtítulo em português, The Square (o quadrado) é muito mais que a arte da discórdia. O filme sueco indicado ao Oscar deste ano é um soco no estômago, assim como seus concorrentes ele não poupa o dedo na ferida e vai até as ultimas consequências. Ao retratar vários temas difíceis, talvez o ponto principal seja essa inércia em que estamos vivendo atualmente em que olhar para os mais fragilizados que estão ao nosso redor não nos causa mais nenhum tipo de compaixão. A não ser que somos levados a isto.

Christian é o curador de um museu de arte moderna e um dia tem seus pertences roubados, ao invés de chamar a polícia ele mesmo rastreia o celular com a ajuda de um funcionário do museu e os dois decidem colocar em cada apartamento do prédio em que o celular está escondido, uma carta ameaçando o tal ladrão. O tal gesto dá certo e devolvem seus pertences, mas a partir daí vários contratempos surgem na vida de Christian.

É impressionante como a narrativa é forte, mas a direção não é pesada ao contrário de Três Anúncios para um Crime. Por sinal, os filmes desta categoria dão um banho, uma verdadeira aula de cinema que os americanos deveriam começar a aprender. O diretor Rubens Östlund sabe como conduzir as cenas de tal forma que os momentos mais densos são cobertos de poesia. A versão de "Ave Maria" de Gounod feita por Yo-Yo Ma & Bobby McFerrin pontua toda a história ajudando a criar esse clima mais leve, talvez a ideia seja uma grande ironia do diretor, entretanto, funciona muito bem.

Claro que nada disso seria perfeito se não houvesse um elenco a altura e é aqui entra o nome de Claes Bang, esse ator dinamarquês carrega todo o filme sem cair na pieguice nem na caricatura, sua composição é impressionante e se de fato o Oscar fosse justo ele teria no mínimo recebido uma indicação. Sua performance é um verdadeiro show que nos faz perguntar: quem é Gary Oldman?

21/02/2018

Doentes de Amor

Os membros da Academia este ano cometeram vários erros, um deles foi menosprezar filmes interessantíssimos como este. Doentes de Amor foi indicado apenas para melhor roteiro original (por sinal merece e muito esse Oscar) e nada mais. Uma pena. O filme é superior a vários que concorrem em muitas estatuetas.

Fugindo do clichê de comédia romântica, o filme mostra um paquistanês (Kumail Nanjiani, que por sinal escreveu o roteiro baseado em sua vida) que tenta a sorte como comediante de stand up. Em um destes shows conhece uma jovem e iniciam um relacionamento. O problema é que sua família é muito tradicional e espera que ele se forme como advogado e cumpra todos os deveres de um muçulmano, como orar várias vezes ao dia e casar com uma moça que eles arranjarem. Só que ele não quer nada disso e vive fugindo de tudo isso, sem que obviamente eles saibam. 

Partindo de uma premissa comum o que faz Doentes de Amor ter um roteiro original é que ela é pautada mais nas tragédias que cercam seu protagonista do que na comédia em si. Ele acaba partindo o coração da namorada em esconder certas coisas de sua vida. Quando a jovem vai parar no hospital,  ele cuida dela durante o tempo em que está em coma e se aproxima dos pais da moça. É justamente o pai dela que tenta dizer pra ele que quando a gente sente que vai perder a pessoa que ama é que descobre que ela é o amor de sua vida. Ok, na verdade ele não disse dessa maneira, mas quis dizer isso. O que quero dizer é que o diálogo em si é divertido como são todos os diálogos do filme.

Num ano marcado pela forma nojentinha como a mídia fez colocar filmes medíocres entre os melhores do ano é lamentável que a festa do Oscar não tenha mais o brilho de outrora, não que isso não ocorresse antes, mas agora está tudo tão descarado que salta aos olhos de tal forma que até quem ainda acreditava na credibilidade do Oscar já não acredita tanto. O que levou os membros da Academia a cometerem tantos erros esse ano eu não sei, vai ver cometiam antes e a gente que era bobo.

20/02/2018

Visages, Villages

Em sua extensa carreira como diretora, Agnès Varda foi do filme de ficção ao documentário. Sua extensa obra percorre todas as mudanças que o cinema sofreu nas últimas cinco décadas. Ela não teve receio de experimentar e mais ainda, estava cercada de pessoas que gostava de ter por perto. É notório que ela ama gente, de gente comum, do cara do campo ou do trabalhador que acorda cedo e enfrenta a selva de pedra.

Dito isso, e ao contrário de seus colegas da Novelle Vague como Truffaut e Godard, Agnès não é tão badalada fora do meio cinematográfico, porém é uma figura proeminente do cinema francês e se tornou a primeira diretora a receber um Oscar honorário pelo conjunto da obra este ano. Além disso, seu recente trabalho, o documentário Visages, Villages, que dirigiu o lado do fotógrafo JR, também está indicado ao Oscar, num filme em que nos delicia com seu talento em saber deixar as pessoas à vontade a ponto de que contem suas histórias. 

Visages, Villages é delicioso por não ser didático, erro de muitos documentários. É um diário de viagens que percorre a aventura de Agnès ao lado de JR, pela França. JR é um exímio fotografo que expõe suas obras ao ar livre se tornando célebre por isso. E assim como Agnès ele gosta de gente comum. Sendo assim a sinergia entre eles salta aos olhos. Da garçonete ao homem do campo chegando ao estivador. O humor é outro fator que faz com o que o filme se torne leve, não se torne monótono, os diretores foram inteligentes também em fugir da pieguice como, por exemplo, ao mostrar a avó de JR e os preparativos para o encontro com Godard. A edição e o tempo também contribuíram, em mais ou menos 1 hora e meia é possível compreender a visão de duas pessoas de épocas e hábitos tão distintos, mas que se complementam porque souberam aproveitar o que haviam de melhor em cada uma para realizar este esplêndido filme.

19/02/2018

Projeto Flórida

Para muita gente,  e principalmente muitos brasileiros, a Flórida é a Disney, lugar em que os sonhos se tornam realidade, mas não é bem assim. Não é mesmo.

Moonee (Brooklyn Prince) está de férias da escola e aproveita seus dias no hotel em que mora aprontando com seus amigos para desespero do gerente, Bobby (Willem Dafoe) que tenta colocar alguma ordem no local. Bobby vive às turras com os hospedes especialmente a mãe de Moone, a desbocada Halley (Bria Vinaite).

Projeto Flórida é um filme despretensioso, ele não quer te convencer de nada e apenas mostra a vida como ela é. Portanto enquanto acompanhamos as travessuras de Moonee e suas tentativas de sobreviver junto com sua mãe, vemos passar um retrato da sociedade americana que Hollywood dificilmente mostra. Ou quando tenta mirar nestas questões, quase sempre erra buscando glamorizar o improvável, maquiar para os olhos do grande público as mazelas que afligem milhões de americanos. 

Se de um lado temos a ironia no roteiro (catem a cena em que um casal chega para passar a lua de mel e fica perplexo ao chegar na espelunca em que se passa o filme, a jovem é brasileira e quer sair de lá urgente) do outro lado percebemos situações de grande ternura como o momento em que Halley leva a filha para comer em restaurante chique de um hotel. Impossível não se divertir com a experiência da menina com a comida do local contudo quando a câmera fita Halley é de apertar o coração.

Provavelmente por não gostar de ver os Estados Unidos retratado dessa maneira, os membros da Academia ignoraram o filme na maioria dos prêmios, felizmente Willem Dafoe recebeu uma merecida indicação como melhor ator coadjuvante. E como não amar a pequena Brooklyn Prince que merecia ter sido indicada ao Oscar por seu desempenho acima do normal assim como a estreante Bria Vinaite que nos arrebata. Sua performance é tão sensível que não temos raiva de suas escolhas, é notório que ela apenas quer sobreviver nesse mundo caótico e que os americanos, tentam esconder.

15/02/2018

Com Amor, Van Gogh

Vincent Van Gogh era um artista extremamente sensível e desejava que todos pudessem sentir o que ele via com sua arte, infelizmente apenas após sua morte ele conseguiu alcançar o coração de todos com seu trabalho. A pobre alma atormentada do pintor holandês durante anos aguça a curiosidade de muitas pessoas que tentam entender quem afinal era o homem por trás de tanta beleza. Porque ele se matou? Como alguém que transmitia tanta vida em seus quadros poderia querer tirar a sua própria?

Assim sendo vemos em Com Amor, Van Gogh, os personagens retratados pelo artista recontando os instantes finais de sua vida. Tudo começa quando Armand Roulin é encarregado pelo pai, Joseph Roulin, de entregar uma carta ao irmão de Van Gogh, Theo. Ele não sabe que este também faleceu e cabe aos moradores de Auvers-sur-Oise lhe contarem, sob a perspectiva de cada um, o que aconteceu com Van Gogh no período em que esteve na cidade.

O que me incomoda no filme é que seu roteiro não chega a lugar nenhum, parece que de repente decidiram que seria uma boa ideia criar um suspense sobre a morte do pintor e lá foram eles, contudo quando você acha que o filme vai começar ele se perde novamente virando uma grande perda de tempo e é lamentável. A obra de um dos maiores gênios do mundo daria um filme belíssimo se tivessem escrito uma boa história a partir do que ele deixou, mas pegaram justamente isso para tentar encontrar motivos supérfluos e para se conhecer Van Gogh basta apenas ver seus quadros, está tudo ali. 

Com Amor, Van Gogh está indicado ao Oscar de melhor animação, o filme foi pintado a mão por mais de cem pessoas, neste caso o resultado é lindo e acredito que funciona muito bem numa sala de cinema, mas falta ritmo o que o torna longo demais para se apreciar e talvez se fosse um curta funcionasse melhor.

Trama Frantasma

Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um renomado estilista, o preferido tanto da alta sociedade quanto da nobreza europeia. Ele é um profissional muito exigente, cheio de manias irritantes, mas sedutor o suficiente para sempre ter ao seu lado alguma jovem para servi-lo, ora como musa, ora como amante. Tudo isso até conhecer Alma (Vicky Krieps), uma garçonete que ao contrário das outras moças sabe se impor e tecer uma maneira de prender Reynolds.

Trama Fantasma é um filme surpreendente. Ele não entrega logo sua história e justamente por isso mesmo prende a atenção de tal maneira que não se percebe o tempo passar. O enredo vai se desdobrando como um tecido pronto para ser costurado à medida que conhecemos cada um de seus personagens principais. Reynolds no alto de seu ego super inflado não é tão seguro de si assim, como todos os artistas ele também é inseguro o bastante para temer perder o que construiu; Cyril (Lesley Manvlle), seu braço direito, esquerdo e tudo mais, é muito mais generosa do que se espera dela a princípio; Alma é muito mais esperta do que se imagina sabendo usar sua cara de bobinha pra conseguir o que deseja.

Paul Thomas Anderson é um diretor pelo qual sou apaixonado desde Boogie Nights, ele sabe como escrever personagens humanos, nunca maniqueístas, sabe como posicionar a câmera e brincar com ela quando necessário. A fotografia é outro charme e a trilha sonora um primor, é sobretudo ela que nos leva a acompanhar esse filme cheio de nuances e com um roteiro que nos prega peças, revelando ardis femininos maiores do que Reynolds poderia supor. 

E o elenco inteiro merecia um Oscar, suas atuações são soberbas, mas sobretudo Lesley Manville prova que não é uma zebra entre as indicadas e que merece aquele prêmio tanto quanto às outras, sua personagem é intrigante, suas falas são sempre as melhores do filme roubando a cena em todos os momentos em que aparece. Daniel Day-Lewis, o que dizer? Deem outro Oscar para esse homem que pode até ser o último já que ele anunciou a aposentadoria. Ele consegue ser perfeito sempre em cada filme e aqui não foge à regra. Só mesmo ele é capaz de fazer com que sintamos repulsa e desejo num mesmo momento.

Trama Fantasma está indicado à seis Oscars (filme, direção, figurino, trilha sonora, ator e atriz coadjuvante) e merece todos eles, contudo se vai ganhar eu não sei, talvez não, mas é aquele tipo de filme que consegue ser maior que qualquer prêmio, mas que a gente quer que ganhe assim mesmo.

08/02/2018

Sem Amor

O amor quando surge não tem explicação, a falta dele também e é sobre isso que esse filme russo concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro fala. Zhenya e Boris estão em processo de divórcio, e jogam na cara um do outro todo o tipo de rancor acumulado durante anos, ela mais do que ele que prefere manter uma atitude passiva perante as situações deixando a mulher esbravejar suas insatisfações.

No meio disso tudo existe uma criança, Alyosha, que sofre com o distanciamento dos pais que preferem viver suas vidas do que se preocuparem com o que o garoto sente a respeito disso tudo chegando até a traçarem um triste destino para a pobre criança. Zhenya e Boris já vivem outros relacionamentos e parecem bem felizes com isso até que Alyosha desaparece deflagrando um caos na vida de seus omissos pais.

Sem Amor é um filme que perturba porque mostra que os pais de Alyosha não são vilões, são seres humanos como eu e você e o ser humano pode ser egoísta, mesquinho e capaz de qualquer coisa para viver a sua vida sem se preocupar com os sentimentos dos outros. A cena em que Alyosha chora escondido ao perceber que os pais não querem ficar com ele é de uma dor tão intensa que é capaz de dilacerar o mais bruto coração e não apenas por se tratar de uma criança, mas também por isso. Preparem os lenços e tenham certeza que jamais serão os mesmos depois desse filme. 

07/02/2018

Corpo e Alma

O filme húngaro concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano consegue caminhar na linha tênue que separa o incômodo do fascínio, a delicadeza da brutalidade. Se por um lado vemos um matadouro com vaquinhas sendo estripadas, do outro temos cenas lúdicas, feitas de forma artesanal. É o contraponto que o filme sugere no título e que não podem estar separados.

Mária (Alexandra Borbély) é responsável pelo controle de qualidade do tal matadouro, ela não agrada muito as pessoas porque suas maneiras são um tanto excêntricas. Enquanto isso, Endre (Géza Morcsányi) é o chefe do local que observa o comportamento de Mária. Ambos são pessoas solitárias e devido a uma situação que não cabe discorrer aqui, a polícia é chamada no local para uma investigação e o responsável sugere que uma psicóloga entreviste os funcionários. Eis que tanto Mária quanto Endré descobrem na sessão que partilham do mesmo sonho. 

O que vemos a seguir é como estes dois personagens vão lidar com essa situação. Percebemos o mundo de Mária que não permite o toque. Se em determinado momento o roteiro sugere que o sonho seja o mote central ele mesmo nos prega uma peça para mostrar que é apenas um detalhe nessa história e o que importa é a solidão destes dois personagens e como eles lidam com isso. O sonho seria uma metáfora para suas vidas, dois cervos numa floresta em meio a neve, eles têm apenas um ao outro. Mária e Endre não possuem ninguém, mas agora eles começam a perceber que precisam um do outro.

Mária é uma criança descobrindo o mundo. Alexandra Borbély dá à personagem o tom certo, não deve ter sido nada fácil construir uma mulher com tantas nuances. Seu olhar percorre os mais diversos sentimentos. No começo ela é quase um robô programado para executar ordens, que necessita ensaiar com bonecos de Playmobil o que vai conversar com Endre (neste momento meu coração vibra com uma inserção de Product Placement tão sutil), contudo com o decorrer de sua história vemos como seu olhar se transforma na menina encantada com o gramado e com o jatos de água sobre ela. Já Géza Morcsányi tem a missão de segurar um protagonista linear e nos momentos em que ele não diz uma palavra, diz mais do se estivesse falando.

Corpo e Alma é um desses filmes que perturbam, mas são essenciais em nossa vida porque mostra que a solidão nunca é boa, todos nós precisamos de algo ou alguém que nos conforte em qualquer momento de nossas vidas. É o que o nosso corpo e nossa alma desejam.

06/02/2018

O Destino de uma Nação

Winston Churchill foi um dos maiores estadistas do século XX e sua destreza, estratégia, exímia capacidade de liderança e inteligência fizeram com que o Reino Unido se mantivesse firme durante a 2º Guerra Mundial, enquanto o resto da Europa sucumbia perante os alemães. Churchill chega ao poder justamente no momento em que as tropas inglesas estão encurraladas na França. Sim, enquanto Dunkirk conta como isso aconteceu, O Destino de uma Nação mostra as artimanhas políticas, os bastidores desta guerra e como o primeiro-ministro britânico conseguiu não apenas se manter no poder, mas também unir o povo o suficiente para lutar contra a ameaça nazista.

Os ingleses sabem como ninguém fazer filmes de época e neste caso somos transportados para os anos 40. Para dar vida ao personagem principal, Gary Oldman, está coberto sob pesada maquiagem o tornando irreconhecível. Os diálogos também são ótimos, porém, sempre há um porém, a direção de Joe Wright é fraca, o filme não tem o ritmo que se espera e em vários momentos é cansativo. Além disso alguém deve ter dito para o realizador que seria uma ótima ideia aquele excesso de plongée no filme. Enquanto Dunkirk sabe usar muito bem os ângulos e a fotografia ao seu favor, O Destino de uma Nação peca nestes quesitos técnicos. As sombras até são bem utilizadas em dois momentos do filme, no seu início quando Churchill aparece nas sombras e é revelado ao espectador ao acender um charuto e no fim ao sair do parlamento vemos sua silhueta se formando à medida que o filme termina. Mas com um personagem tão extraordinário, o longa metragem deixa a desejar.

Indicado a seis prêmios da Academia é favorito ao prêmio de melhor ator e maquiagem, um trabalho aliás em que um depende do outro. Oldman carece do suporte da maquiagem, contudo ela esconde o ator. É pesada e não ajuda. De qualquer forma vale a pena pelo teor histórico e como disse Churchill, "Não podes negociar com um tigre quando tens a tua cabeça dentro da boca dele!"

05/02/2018

Dunkirk

Por mais que se revisite, a 2º Guerra Mundial sempre tem histórias para contar. Como a famosa Batalha de Dunquerque em que ingleses e franceses estavam encurralados por alemães e mais de 300 mil soldados foram evacuados via marítima.

Chris Nolan teve a ideia de recontar essa história quando atravessava o canal da mancha e criou o filme sobre o ponto de vista dos personagens no céu, mar e terra que se contrapunham em três diferentes períodos de tempo, mas que em algum momento se intercalariam. Essa sacada brilhante do roteiro é que faz com que a história ganhe a atenção do espectador. Outra curiosidade é que não vemos os inimigos alemães ao longo do filme, eles estão lá, mas não os vemos diretamente porque a ideia era focar no drama dos soldados aliados. Vale frisar que algumas questões ficam em aberto, o filme não foca nos motivos pelos quais os soldados estavam encurralados e porque estavam encurralados. Provavelmente porque essa história já foi recontada antes. O que importa é o que a guerra provoca, os medos, as angústias. Já perto do fim do filme, Alex (Harry Styles) diz: "só o que fizemos foi sobreviver" ao que um senhor responde: "é o suficiente." É justamente aí que está o cerne da questão, naquele momento não importava a vitória e sim a sobrevivência.

Ao compor uma história com várias subtramas que se entremeiam, o diretor podia correr o risco de não chegar a lugar nenhum, mas estamos falando de um dos melhores realizadores da atualidade que divide os críticos porque ora parece moderninho, ora conservador. Se por um lado vemos a história de Tommy (Fionn Whitehead) que conhece Gibson (Aneurin Barnard) na praia enterrando outro soldado e  as tentativas destes em fugir daquele inferno; acompanhamos o Sr. Dawson (Mark Rylance) que parte com seu barco junto com o filho e um amigo deste para fornecer ajuda e resgatar o soldados na França; ao mesmo tempo, observamos os piloto Farrier (Tom Hardy) e Collins (Jack Lowden) que cruzam o canal da mancha para dar apoio aéreo aos soldados que estão sendo atacados.

De longe, mas muito longe, Dunkirk pode ser considerado um filme melodramático com apelo às lágrimas ou um filme de guerra com muita ação contando uma história real. Muito pelo contrário, Nolan sabe dosar isso muito bem criando a tensão, o suspense necessário, como de fato é uma guerra em que a trágica surpresa pode destruir qualquer tentativa de paz. E sabe também escolher muito bem o elenco. Não há estrelismos e até o astro pop, Harry Styles, tem seu momento e se saiu muito bem por sinal. Fionn Whitehead é outro nome que devemos guardar bem no futuro. E Tom Hardy pode até não aparecer muito, mas sua voz derrete qualquer coração.

Durkirk está indicado para oito categorias do Oscar e seria justo se vencesse todas elas, isso dificilmente ocorrerá, mas se vencer pelo menos cinco (edição e mixagem de som, trilha sonora, fotografia e design de produção) já estou feliz.

02/02/2018

Uma Mulher Fantástica

Muitas coisas podem ser ditas sobre este filme chileno, mas o que se sobressai aqui é o fato que ele foi feito para Daniela Vega brilhar. Sua personagem conduz toda a trama, ela carrega o filme nas costas. Em Uma Mulher Fantástica Daniela vive Marina Vidal, ela tem um companheiro, Orlando (Francisco Reyes), que morre subitamente e logo após terem comemorado o aniversário dela. A partir daí Marina passa por maus bocados tendo que lidar com a polícia, a família de Orlando e principalmente o preconceito deles que não aceitam o fato dela ser uma mulher transexual.

A narrativa de  Uma Mulher Fantástica prioriza as atuações, muita coisa não é dita, mas está sendo apenas no olhar de seus personagens. Marina está assustada, ela foi humilhada e o momento em que exige da família que apenas devolvam sua cadela é a explosão em pessoa, a raiva que ela guardou durante todo aquele tempo é exposta.

Outro fator está em não revelar determinadas intenções tão rapidamente, entretanto a família de Orlando não demorou a deixar claro sua discriminação. Eles exigem o carro, o apartamento e não querem que ela sequer vele seu companheiro. A cena em que ela entra numa boite depois de ter sido colocada pra fora da casa em que vivia com Orlando, é puro deslumbramento, delírio e vazio.

A câmera de Sebastián Lelio vai atrás de Marina durante sua jornada em tentar entender tudo que está acontecendo, ela não tem tempo nem pra chorar sua dor, sua angústia em ver sua vida mudar totalmente da noite pro dia, ela está sendo cobrado e julgada o tempo todo pela polícia que deseja saber se ela não teve nada a ver com a morte de Orlando, pela família que não a aceita como mulher, tampouco como mulher de Orlando.

Uma Mulher Fantástica está indicado ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira, o páreo é duro, mas quem sabe o empoderamento feminino fale mais alto e faça o filme vencer.

01/02/2018

Viva: A Vida é uma Festa

A morte é inexorável, é a unica certeza que nós temos, mas mesmo assim ainda é um tabu para muitos, um assunto que muitos temem tratar principalmente com crianças. Mas em Viva: A Vida é uma Festa, Lee Unkrich trata desse assunto de uma maneira divertida. Para isso toma como partida o dia dos mortos celebrado no México, um país que culturalmente lida melhor com a morte do que seus vizinhos ianques e irmãos latinos.

O filme conta a história do jovem Miguel apaixonado por música que tem como ídolo o cantor Ernesto de la Cruz e sonha ser como ele, mas devido a uma questão familiar a música está banida de sua família. Ele toca violão escondido e quer se apresentar na praça de sua cidade a contragosto dos seus parentes que esperam que ele siga os passos de todos e se torne um sapateiro.

O que vemos a seguir é entrada de Miguel no mundo dos mortos e como ele consegue tal façanha eu não direi aqui, mas ele precisa voltar pro mundo dos vivos e ajudar seu novo amigo Hector a não ser esquecido pela sua filha. Sua aventura é alegre, cheia de cores e a morte aqui é vista apenas como uma passagem que apenas precisamos aceitar, mesmo que a gente não queira porque afinal o que importa são as lembranças que guardamos das pessoas que amamos em vida.

Viva: A Vida é uma Festa está indicado ao Oscar de melhor canção (mesma dupla que fez a chiclete Let it Go de Frozen) e animação. Espero que vença essa última já que a canção indicada não é bem lá grande coisa, tem outras bem melhores no filme, contudo não se pode acertar sempre.

A Voz Suprema do Blues

Viola Davis é uma atriz do mesmo quilate de Meryl Streep. Infelizmente ainda não é tão reconhecida ou tão bem paga quanto (a bem da verdade ...