07/02/2018

Corpo e Alma

O filme húngaro concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano consegue caminhar na linha tênue que separa o incômodo do fascínio, a delicadeza da brutalidade. Se por um lado vemos um matadouro com vaquinhas sendo estripadas, do outro temos cenas lúdicas, feitas de forma artesanal. É o contraponto que o filme sugere no título e que não podem estar separados.

Mária (Alexandra Borbély) é responsável pelo controle de qualidade do tal matadouro, ela não agrada muito as pessoas porque suas maneiras são um tanto excêntricas. Enquanto isso, Endre (Géza Morcsányi) é o chefe do local que observa o comportamento de Mária. Ambos são pessoas solitárias e devido a uma situação que não cabe discorrer aqui, a polícia é chamada no local para uma investigação e o responsável sugere que uma psicóloga entreviste os funcionários. Eis que tanto Mária quanto Endré descobrem na sessão que partilham do mesmo sonho. 

O que vemos a seguir é como estes dois personagens vão lidar com essa situação. Percebemos o mundo de Mária que não permite o toque. Se em determinado momento o roteiro sugere que o sonho seja o mote central ele mesmo nos prega uma peça para mostrar que é apenas um detalhe nessa história e o que importa é a solidão destes dois personagens e como eles lidam com isso. O sonho seria uma metáfora para suas vidas, dois cervos numa floresta em meio a neve, eles têm apenas um ao outro. Mária e Endre não possuem ninguém, mas agora eles começam a perceber que precisam um do outro.

Mária é uma criança descobrindo o mundo. Alexandra Borbély dá à personagem o tom certo, não deve ter sido nada fácil construir uma mulher com tantas nuances. Seu olhar percorre os mais diversos sentimentos. No começo ela é quase um robô programado para executar ordens, que necessita ensaiar com bonecos de Playmobil o que vai conversar com Endre (neste momento meu coração vibra com uma inserção de Product Placement tão sutil), contudo com o decorrer de sua história vemos como seu olhar se transforma na menina encantada com o gramado e com o jatos de água sobre ela. Já Géza Morcsányi tem a missão de segurar um protagonista linear e nos momentos em que ele não diz uma palavra, diz mais do se estivesse falando.

Corpo e Alma é um desses filmes que perturbam, mas são essenciais em nossa vida porque mostra que a solidão nunca é boa, todos nós precisamos de algo ou alguém que nos conforte em qualquer momento de nossas vidas. É o que o nosso corpo e nossa alma desejam.

1 comentário:

SERGIO VIULA disse...

Que lindo!

É uma morena que não se possa ver tudo o que se deseja no cinema. A vida impõe trabalho e lkmites ao "cartão de crédito", mas suas resenhas despertam o apetite cinéfilo de quem curte a oitava arte.

Beijos, Serginho.

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