04/12/2020

Coringa

A sociedade está doente, carente de informação, busca o tempo todo um herói, alguém que fale por ela, que, sobretudo, lute por ela. Tudo isso está explícito em Coringa, filme de Todd Phillips que rendeu aplausos unânimes da crítica e do público, principalmente pela atuação esmerada de Joaquin Phoenix.

O que vemos aqui como um trabalho de total entrega de Phoenix, num roteiro e direção inspiradores, colocou o filme num patamar até então desconhecido para películas do gênero sempre vistas como algo menor. Ok, sejamos justos. Anos antes, Heath Ledger já havia personificado o personagem em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) com imensa entrega e vencido um Oscar (póstumo) de melhor ator coadjuvante, o que para muitos foi a interpretação definitiva do bandido com cara de palhaço.  O filme, também muito prestigiado, foi ignorado pela Academia que não o indicou para o prêmio de melhor filme, nem melhor direção. Mas a semente foi plantada e Coringa vai além ao dar voz a um dos maiores vilões dos quadrinhos (talvez o maior) e Joaquin consegue sair da sombra de seu colega.

Coringa já começa a mostrar um homem doente, frágil, que depende de remédios para se manter de pé. Que almeja fazer stand up comedy e tem um emprego horrível como palhaço (ironia?) exibindo cartazes de propaganda. Para acentuar essa fragilidade, ele é agredido por uns garotos.

É notório que toda a raiva do personagem está ali, presente, querendo sair. Ele tenta se conter, mas é impossível. Quando sai em defesa da moça no metrô ele sai em defesa de si mesmo. Matar os rapazes de colarinho branco é a metáfora perfeita para o que a sociedade espera de um herói agora. Eles não querem um homem que voe e tenha uma super força, mas sim alguém como eles.

E a partir daí, Coringa, ou melhor, Arthur Fleck, percebe que a moça que ele supunha namorar estava apenas em seu imaginário. A realidade bateu em sua porta e agora ele tem que lidar com ela, assim como todos nos todos os dias ao sair de casa e enfrentar empregos que não queríamos ter, salários que não merecemos receber, conviver com pessoas que não gostamos.

Essa sociedade mostrada em Coringa não é uma utopia, antes fosse. É a mesma sociedade que eu e você vivemos e para qual estamos mergulhados. Existe um Coringa dentro de muitas pessoas, mas também existe um Batman, só que neste caso, é outra história.

Curiosidade: 16 das 20 marcas de Coringa eram fabricantes de automóveis, contudo a marca mais visível foi a Panasonic que apareceu por quase três minutos do tempo de tela e grande parte são close-ups de suas TVs com o logotipo visível.

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