05/12/2020

Era uma vez um sonho

E era uma vez um Oscar.

Ron Howard nunca foi um bom diretor, sempre foi mediano e até no filme que lhe rendeu I-N-J-U-S-T-A-M-E-N-T-E o Oscar (Uma Mente Brilhante) ele não mostra habilidade em conduzir a história. O moço que começou a carreira como ator mirim (nunca gostei desse termo) em algum momento viu que o carisma juvenil não ia durar para sempre e migrou para trás das câmeras. Talvez tivesse continuado onde estava.

Bem, ele colecionou sucessos em filmes mega populares dos anos 80 como Splash, Cocoon, Willow e Parenthood e a partir daí achou que poderia ser um diretor sério e fazer projetos mais audaciosos que mostrassem que ele era um diretor de fato. A mesma coisa que Spielberg fizera. Foi justamente a partir daí que ele mostrou para o mundo como ele é um diretor coxinha, nada inventivo que apela pras soluções mais fáceis a fim de conquistar o público.  Pra indústria do cinema americano, um ator que só faz filmes de ação, ou comédia, não possui o mesmo prestígio, daquele que faz dramas intensos. O mesmo ocorre com o cineasta que para crescer na carreira e oferecerem projetos maiores, precisa fazer filmes com temáticas mais contundentes. Nesse caso Spielberg conseguiu. Ron Howard mesmo em projetos mais densos nunca soube como aquelas histórias poderiam render mais do que ele teimava em fazer. E é justamente isso que vemos em Era uma vez um sonho.

Era uma vez um sonho é uma adaptação bem meia boca do livro de J.D Vance, Era uma vez um sonho: A história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana. O livro retrata a decadência cultural e econômica de uma sociedade e tem feito tanto sucesso que desde 2016 é um best seller. Ele também é indicado para quem deseja compreender como Trump ganhou as eleições no EUA. Honesto, J.D. Vance mostra como a vida é difícil para tantas pessoas, aquelas mesmas pessoas que os americanos não querem reconhecer sua existência. Ele utilizou a sua história de vida para compor um mosaico cruel e verdadeiro dessa sociedade marginal.

Mas não é bem isso que vemos no filme. O que fica é uma família disfuncional. Uma avó que precisa criar o neto já que a filha é instável emocionalmente e a irmã está tentando fugir daquela família.

Ron Howard preferiu tirar todo esse aspecto e centrar apenas na superficialidade dos dramas daquela família. Com um livro como esse em mãos, um exímio diretor teria feito um filme esplêndido, mas o roteiro de Vanessa Taylor, roteirista que foi indicada ao Oscar por A Forma da Água e ao Emmy como produtora de Game of Thrones não saiu do topo do iceberg.

Entretanto, é preciso dar crédito aqui aos atores que de fato tiraram leite de pedra. Glenn Close, irreconhecível como a matriarca da família, é sempre maravilhosa e isso é uma redundância, assim como o trabalho de Amy Adams. Completando o elenco Haley Bennet como a irmã do protagonista é o equilíbrio que aquela família precisa e por fim os jovens Gabriel Basso e Owen Asztalos que compõem o protagonista na adolescência e fase adulta de maneira carismática, sensível e sem estrelismos. O triste é que todos esses atores soberbos poderiam fazer bonito no Oscar.

Poderiam, porque como eu disse no começo desse texto, era uma vez um Oscar. A crítica não perdoou e as chances estão no limbo para todos eles.

Curiosidade: de alguma maneira, o filme precisava se pagar, talvez previram a bomba que estavam se metendo, então muitas marcas transbordam ao longo do filme: Coca-Cola, Sprite, Apple, Dell, Acer, Sony, Mentos, Nintendo, Marlboro, Budweiser, são as mais conhecidas, mas até calculadora e posto de gasolina entrou no orçamento.

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