Ron Howard nunca foi um bom
diretor, sempre foi mediano e até no filme que lhe rendeu I-N-J-U-S-T-A-M-E-N-T-E
o Oscar (Uma Mente Brilhante) ele não mostra habilidade em conduzir a história.
O moço que começou a carreira como ator mirim (nunca gostei desse termo) em
algum momento viu que o carisma juvenil não ia durar para sempre e migrou para
trás das câmeras. Talvez tivesse continuado onde estava.
Bem, ele colecionou sucessos em
filmes mega populares dos anos 80 como Splash, Cocoon, Willow e Parenthood e a
partir daí achou que poderia ser um diretor sério e fazer projetos mais
audaciosos que mostrassem que ele era um diretor de fato. A mesma coisa que
Spielberg fizera. Foi justamente a partir daí que ele mostrou para o mundo como
ele é um diretor coxinha, nada inventivo que apela pras soluções mais fáceis a
fim de conquistar o público. Pra
indústria do cinema americano, um ator que só faz filmes de ação, ou comédia, não
possui o mesmo prestígio, daquele que faz dramas intensos. O mesmo ocorre com o
cineasta que para crescer na carreira e oferecerem projetos maiores, precisa
fazer filmes com temáticas mais contundentes. Nesse caso Spielberg conseguiu.
Ron Howard mesmo em projetos mais densos nunca soube como aquelas histórias
poderiam render mais do que ele teimava em fazer. E é justamente isso que vemos
em Era uma vez um sonho.
Era uma vez um sonho é uma
adaptação bem meia boca do livro de J.D Vance, Era uma vez um sonho: A história
de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana. O livro retrata
a decadência cultural e econômica de uma sociedade e tem feito tanto sucesso
que desde 2016 é um best seller. Ele também é indicado para quem deseja
compreender como Trump ganhou as eleições no EUA. Honesto, J.D. Vance mostra
como a vida é difícil para tantas pessoas, aquelas mesmas pessoas que os
americanos não querem reconhecer sua existência. Ele utilizou a sua história de
vida para compor um mosaico cruel e verdadeiro dessa sociedade marginal.
Mas não é bem isso que vemos no
filme. O que fica é uma família disfuncional. Uma avó que precisa criar o neto
já que a filha é instável emocionalmente e a irmã está tentando fugir daquela
família.
Ron Howard preferiu tirar todo esse
aspecto e centrar apenas na superficialidade dos dramas daquela família. Com um
livro como esse em mãos, um exímio diretor teria feito um filme esplêndido, mas
o roteiro de Vanessa Taylor, roteirista que foi indicada ao Oscar por A Forma
da Água e ao Emmy como produtora de Game of Thrones não saiu do topo do
iceberg.
Entretanto, é preciso dar crédito
aqui aos atores que de fato tiraram leite de pedra. Glenn Close, irreconhecível
como a matriarca da família, é sempre maravilhosa e isso é uma redundância,
assim como o trabalho de Amy Adams. Completando o elenco Haley Bennet como a
irmã do protagonista é o equilíbrio que aquela família precisa e por fim os
jovens Gabriel Basso e Owen Asztalos que compõem o protagonista na adolescência
e fase adulta de maneira carismática, sensível e sem estrelismos. O triste é
que todos esses atores soberbos poderiam fazer bonito no Oscar.
Poderiam, porque como eu disse no
começo desse texto, era uma vez um Oscar. A crítica não perdoou e as chances
estão no limbo para todos eles.
Curiosidade: de alguma maneira, o filme precisava se pagar, talvez previram a bomba que estavam se metendo, então muitas marcas transbordam ao longo do filme: Coca-Cola, Sprite, Apple, Dell, Acer, Sony, Mentos, Nintendo, Marlboro, Budweiser, são as mais conhecidas, mas até calculadora e posto de gasolina entrou no orçamento.
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